Sem Máscaras

Eu queria que a palavra fosse um mistério
Que o sentimento não fosse escancarado
Um medo fundamentalmente humano
Que prefere parecer ao invés de ser

Agora aqui estou na calada da noite
Onde o silêncio é a voz que prevalece
Se deixar versos pela calçada
A manhã não saberá suas origens

Falarei do que amo sem condições?
Falarei do que defendo com paixão?
Falarei do que temo, do que dói?
Falarei do que revolta o coração?

A alma não quer grandeza, quer significado
Aliviar o peito, acalmar a razão
Dizer nem que seja num sussurro
Encontrar a realidade no sonho

Pois sou uma esperança acanhada
Um desejo que tem medo de querer
Uma reza que não pede
Mas que sorri toda vez que imagina

Não há como fugir da decepção
Não há como ignorar a vontade
Quem sente não faz pela metade
Peito aberto não tem solução

Então seja gentil minha madrugada
Ouça meus apelos sem julgar
Disfarça a lágrima numa garoa fina
E deixa a alegria acreditar

Encruzilhada

Você já se sentiu a beira do precipício? Mas sem ser uma questão de vida ou morte. Na verdade lá embaixo está tudo que você já  sonhou. Você se vê feliz, realizado, finalmente no seu lugar do mundo. E por quê é tão difícil pular? Por quê tantos empecilhos, desvios, adiamentos? O que falta para acreditar? Será os calos do passado? O medo de caminhar e se achar novamente sem rumo? É a falta de uma certeza? É a sobrecarga das expectativas? Tantos sentimentos me apontam para isso e ao mesmo tempo não consigo me convencer. E se for obrigado, algo não natural, não deve ser para ser, certo? Mas as coisas boas da vida, também precisamos lutar por elas, pelos sonhos, não é verdade? Mas algum dia tive um sonho? Será que comprei ideias de que podia chegar nesses lugares, ou foi mesmo meu desejo íntimo um dia estar ali? Tudo vira dúvida. Já me conheci iludido. Já me conheci confiante. Cheguei em lugares e tive tantas outras decepções. Confiei na vida o meu caminho, tentei direcionar o meu barco. Um homem à deriva, é um homem sem sonhos ou imaginação. Sento nessa beirada paralisado. Talvez esperando alguma resposta ou sinal, de algo que só eu posso decidir. Deixo reticências na esperança de um dia voltar aqui….

Uma única coisa

Na vida a gente tem que tentar é ser feliz. Não é fácil, não é sempre e não é permanente. São momentos, às vezes frações de segundo, que alimentam a alma, que aquecem o coração, que se tornam lembranças, que com sorte a gente emenda um no outro. O choro passa, o peito alivia. Encontre qualquer coisa que te faça sorrir, ou sorria mesmo sem encontrar. Não consigo te mensurar o quanto nossa vitalidade depende disso, o quanto a alegria te desperta, o que você é capaz de superar por conta de um único sorriso. Ah, seja feliz. É o que pode equilibrar toda amargura, tristeza, contratempos, obstáculos ou o que for nessa vida. Não consigo imaginar nada mais que valha tanto a pena. Lute, tente e o mais importante de tudo: aproveite. Cada instante conta.

Imaginação

Meu sonho era essa palavra?
Foi, desfez, esqueci?
Qual tua distância da ilusão?
A mesma do coração?
Quis pouco ou quis demais?

Ainda dói
Antes nunca tivesse acordado
A realidade é meio torta
E você, frágil as críticas
É triste o que deixei pelo caminho

Hoje na encruzilhada
Penso, o que era só meu?
O que só eu imaginei?
O que tanto procurava?
Achei ou me perdi?

O erro é ser tão feliz no meu sonho?
Ou não saber construir a realidade?
Será que no fim é tudo medo?
Desvio….para que não te acabes?
Durmo….para não acordar?

Eu acreditei a ponto de me magoar
Eu imaginei ao ponto de sorrir
Eu fiz viver miseravelmente incomparável
Estúpido dom de emular o sentir
Nunca precisei fechar o caderno
Nunca precisei de um verso a mais

Fundamento

Em algum canto
Tem um pedaço de mim que acredita
Não posso dizer que ele seja racional
Muito menos que ele não tenha razão
Às vezes parece que ele mais quer do que sabe
Na maior parte do tempo ele sente mais do que tudo
É incoerente lhe dar atenção
Mas o espaço que ocupa
Não dá a dimensão da sua presença
Ele guarda sonho, desejo, sorriso, esperança
Já pensei ser a parte de mim que não quer aceitar
Ou mesmo meu lugar de ilusões e fantasias
Na verdade é meu quinhão mais íntegro
Que fica depois que toda raiva e tristeza se dissolve
Algumas vezes sua voz é mais fraca
Outras tantas penso que não vou mais encontrá-lo
Mas como uma rocha indivisível ele permanece
Mais forte que qualquer argumento
Mais verdadeiro que qualquer palavra
E se minha única certeza nessa vida
For sempre encontrar ele em minha alma
Será suficiente para saber que encontrarei felicidade

“Regresso”

Essa é a última folha em branco de um caderno há muito tempo fechado. Talvez represente bem os inúmeros sentimentos esquecidos. Os minutos que agora me perseguem tiram o tempo daquilo que já falta espaço. Há uma parte de mim que não pode existir? A palavra não me deixou o coração partido, não me abandonou, nem mesmo no silêncio. Mudou de assunto, iludiu, rezou, cantou e fez de tudo para seguir presente, para que quando o momento chegasse de resgatar, de preencher as lacunas de um depois, ela soubesse ainda o que dizer, ela tivesse ainda uma voz. Sinto vontade de chorar toda vez que libero o peso do meu peito. Até a alma é de aparências. Não há fuga mais inútil, nem atitude mais incoerente do que relevarmos o que realmente somos. Do tempo que perco nada me deixou mais perdido do que a falta desse papel, de não saber mais o que escrevi, de deixar tantos textos, tantas inspirações pela metade. Fiquei aos pedaços, fiquei pelo caminho. Minha esperança é essa página no fim de um caderno finalmente terminado. Que ela possa unir os cacos e indicar um futuro. Sei que a palavra não morre, mas conheço a falta de ar de viver sem ela. Esses meus olhos fechados e esse suspiro profundo é a paz de te sentir novamente.

Estelionato

Para esse amanhã funcionar tem que virar hoje
Só dá para contar com o depois se tiver agora
O quem sabe não se importa
O talvez só espera
O futuro só quer chamar atenção, roubar a cena
Nada nele é verdade
Nem sorriso, nem lágrima
É tudo doce, é tudo fácil
Um golpe muito bem elaborado
Onde depositei boa parte da minha vida
E agora que cheguei aqui
O que faço para ter de volta?
Eu que sonhei com esse amanhã
Eu que contei com esse depois…

Meus Silêncios

Meus silêncios estão longe de ser solidão. Tenho construções perfeitas de futuro. Tenho sucesso, debates, alegrias tão densas que se pode tocar. Mas nem só de imaginações vive os meus silêncios. Eles tem planos. Arquitetam cada passo, querem organizar tudo. Dividir o tempo, fazer caber, trabalhar, sorrir, descansar, tudo com hora marcada. Não para na realidade, cria planilhas para games tanto quanto para as finanças. Não se calam até as coisas estarem do seu jeito. Meus silêncios dependem de mim. Nada fazen, nada movem. Dar-lhes espaço é deixar a vida passar. Ao mesmo tempo são tão necessários esses silêncios, essas pausas, esses suspiros. Algumas vezes me parecem fuga e muitas vezes me soam como paz. Me fortalecem, me reconstroem, me inspiram. De olhos fechados diante o horizonte eu lembro que a esperança reside dentro de mim e no meu silêncio guardo o sorriso que completará o sonho de felicidade.

“Controle”

Vida não tem direção
Nem o tempo controle remoto
O dia não segue nenhuma agenda
Nem o amor segue algum roteiro

Não quero causar desespero
Nem desistências antes do final
Só quero evitar frustrações
Ou pedidos de devolução

É preciso abraçar o que a maré traz
Sorrir quando os ventos mudam
Recomeçar quantas vezes for preciso
Não ter pressa de chegar

É preciso encontrar paz e não razão
Ter empatia e não julgamentos
Relevar os teus rancores
Cultivar a alegria

O verdadeiro controle é ser livre
Amar tudo que sente
Fazer tudo que gosta
Ser tudo que é possível
Sonhar com o que ainda não é

“O que me diz respeito”

Se esse destino é meu
Cabe a mim dizer o que lhe cabe
O que terá espaço na alma
O que sempre vai dar tempo
O depois é cruel demais
Para deixar lá coisas que amo

Estar aqui precisa ter significado
Fazer disso algo maior na vida
Que os deveres sejam rotina
Que a poesia e o amor sejam escolhas
Tem importâncias que criam pesos
Tem importâncias que abrem sorrisos
É horas de abraçar o que faz diferença

Não me pergunte para onde
Não me peça por certezas
Estou construindo a estrada
Fazendo do meu jeito
Para que chegar não seja a vitória
Mas todo dia seja