No meio do vagão o vendedor sem mercadoria tinha apenas sua sinceridade. Despido de promessas só lhe restava a realidade. A verdade é que são muitas realidades e entrar na do outro parece, cada vez mais, uma distância intransponível. Não sei se o silêncio, se os olhares que o evitavam, faziam por costume, com remorso, com raiva ou desprezo. As pessoas pareciam tão longe que era difícil identificar qualquer sentimento e talvez por isso, pela indiferença, tenha doído ainda mais. O vendedor saiu do script e já não pedia ajuda, só queria que alguém lhe visse, que alguém ao menos o fizesse sentir que fazia parte. Deixou o vagão mais surrado que entrou, talvez a fiscalização que lhe tirou as 6 caixas de chocolate tenha sido mais gentil do que aqueles que lhe tiraram a humanidade.
Não custava
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