“Por trás do pano” (04/10/2011)

Não é teu olhar perdido no infinito
Nem o contraste em preto e branco
Não é teu jeito discreto de andar
Nem o mundo que esvazias sem notar
Não é tua pele, teu sexo
Não é a imagem que construo de você
Nem a essência que deixa ao passar por mim

Perturba-me são teus lábios cerrados
O medo envolto neste selo já umedecido
Brinca de desenhá-los com o dedo
Belisca-os em repreensão ao desejo
Mas jamais eles partem
Seja falta de aprendizado ou esquecimento
Teu sorriso não valeria ao menos um ensaio?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Pleonasmo Vicioso” (06/09/2011)

Vivo nesse abismo
A beira de tantos corpos
Nos desencontramos
Busco um sinal do recíproco
Uma verdade no âmago
A utopia de ver além do corpo
Os outros buscam rotas de fuga
Ninguém quer ser sincero
Nem mesmo no silêncio
Somos almas labirinto
Presos em nossas seguranças
Sinto-me andando entre vazios

Não há coração que não pulse
Não há vida que não grite
Não há corpo que não reaja
Enjoa-me essas máscaras
O mundo raso nos condena
Incapazes de encontrar
Um olhar que veja

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Condenado” (09/08/2011)

É uma pena
Deflagrar a verdade
Numa única palavra
Amor é uma conseqüência
A qual voltarei
Como se fosse um erro
Inebriado pela promessa
Embebedo minhas páginas
Sem pudores racionais
Despido de consciência
Perco-me na rima
Preso ao universo
Aquém da paixão
Vazio de realidade
Romanceio a esperança
Um sentir em exagero
Deixaram-me rasgar o peito
Disseram que era longe demais
As feridas se multiplicam
Fiz de tudo uma chance
Sem saber que tinha medida
Sobrou-me ser réu
Perpetuar
Crimes de romantismo
Desculpe se me entrego
Fecho os olhos para o mundo
Mas é preciso preencher os espaços
Até que me tomem a palavra
E a solidão cobre minha pena

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Jogar-se” (28/06/2011)

Quem desenhou este vôo sem asa
A ilusão de Ícaro
A fuga sem realidade
Abandono todas máximas
Não quero compensar o universo
Sentir não é sacrificar-se
Não há promessas no fim do abismo
Ao me trocar pelo outro
Apenas desapareço
O querer não pede evidências
Posso ser mais teu
Mas sem ser verdade
Ainda prefiro tentar
Não viver longe daquilo que penso
Seja corpo ou coração
Não precipito mais
A queda não defende causa

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Feriado” (27/06/2011)

Estava a espera da solidão
O todo resumido ao nada
Um vento que tudo arrasta
Uma alma mais próxima da vida

Foi quando acordei no silêncio
Entre janelas abandonadas
Entre corpos apenas vacantes
O concreto a se esfriar do movimento

Pé ante pé arrisquei-me
A urbanidade era inofensiva
Sem as peças de seu caos
O mundo cabia no meu quintal

Estufei o peito de puro desejo
Fiz do silêncio meu sonho
Fiz do vazio meu lar
Construí no feriado minha paz

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Fração” (19/06/2011)

Não há fuga
Palavra que enobreça
Verdade que justifique
Essência que se assuma
Vontade que demonstre
Somos vis
Ao menos podemos
Perturba-me essa perspectiva
Que escapa dos meus princípios
Faz de tudo uma razão
Do nosso olhar um lugar comum
Limites
Não podemos ser sempre poesia
Tudo pode ficar incompleto
Sem ninguém escapar ileso
O justo é uma noção parcial
Sofremos
Mas continuo caminhando
Resumido ao que sinto
Ao breve suspiro
Que preenche o vazio

Ass: Danilo Mendonça Martinho