“Estiagem”

Sinto saudade
Havia tempo do respirar profundo
Agora o mundo mal toca
Tudo chega com outro destino
Também partimos
Não há para onde voltar

A chuva que cai
Parece um grande silêncio
Nem a melancolia sabe o que dizer
Preciso lembrar que há vida
Mesmo que sem ela não exista o resto
É que o passado é apaixonante
O agora…escasso

A pena não é pelo verso
É pelo universo que não entra
A rotina fadada ao fracasso
Como se acordasse sem tempo
Como alma faltando espaço
No fim sentimento não se mede
Nem em um verso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Crer” (31/10/2012)

Não posso dizer que cheguei aqui ileso. Toda história tem dor, toda pele tem cicatrizes. As tristezas sim, definiram muitas das minhas escolhas, eu escolhi ser melhor. Aprendi onde plantar minhas raízes. Libertei meu coração às suas vontades. Tentei e voltei a tentar. Se a vida é feita de passos, o horizonte é feito de sonhos. Ser feliz demora, exige demais de nossas crenças, cria inúmeras expectativas, mas chega. São pedaços do quebra-cabeça que nos completa. Chuvas no momento certo, abraços que se alongam, lembranças que nos alcançam, amigos que nos cercam, verdades que nos guiam. A felicidade chega e a vida é mais fácil.
Ainda falta para me completar, mas o que tenho por perto é o que faz todo resto possível.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

"Deserto de Alma" (01/10/2012)

A secura dos dias chega na alma
São os goles de água que não completam a vida
Os corpos que endurecem sem afeto
O coração que arranha forçando desejos

Não há tempo bom em um mundo vazio
Para preencher uma vida é preciso vontade
Sonho se inspira no ar, mas o que fica por dentro?
No que exatamente a gente se transforma?

Que volte por favor o sentimento
Há espaços demais entre as palavras
Construindo abismos entre as pessoas

Basta um dia de esperança
Um olhar levemente atento
E a alma deixará de ser silêncio

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“O tanto que me completa” (28/09/2012)

Um tanto de mim pode ser dor
Contrair os desejos até sufocá-los
Um tanto de mim pode ser desespero
Agarrar-me ao dia como se fosse o último
Um tanto de mim pode ser saudade
O suspiro que preenche o vazio
Um tanto de mim pode ser ilusão
A princesa presa no moinho de vento
Um tanto de mim pode ser sonho
O reflexo do sorriso no outro
Um tanto de mim pode ser esperança
A alma que insiste em dar o passo
Um tanto de mim pode ser cansaço
O gosto amargo que não sai da boca
Um tanto de mim pode ser concreto
Fechar todas as portas e janelas
Um tanto de mim pode ser cruel
Viver indiferente perto de ti
Um tanto de mim pode ser lamento
Olhar para vida como se fosse passado
Um tanto de mim pode ser solidão
Contemplar o teto somente meu
Um tanto de mim pode ser sorriso
A alegria que não cabe em mim
Um tanto de mim pode ser indefinido
A chance de mudar de opinião
Um tanto de mim pode ser realidade
O chão que me impedirá de cair
Um tanto de mim vai ser omissão
Tudo aquilo que apenas sinto
Um tanto de mim pode desistir
Porque nada permanece igual
Um tanto de mim pode ser amanhã
Os encontros que esperam a hora certa
Um tanto de mim pode ser a chuva
O beijo velado no véu transparente
Um tanto de mim pode ser partida
Para que aprenda a abrir mão
Um tanto de mim tem de ser abraço
Para que o coração tenha abrigo
Um tanto de mim pode ser o suficiente
Deixar uma marca no mundo
Um tanto de mim pode ser plena felicidade
O fim de tarde bem acompanhado
Um tanto de mim sempre será paz
Enquanto permanecer fiel as minhas escolhas
Um tanto…

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Pertencer” (25/09/2012)

O corpo pode correr em círculos
Saborear o amargo mais de uma vez
Abraçar a dor no travesseiro
Respirar fundo sem escapar
O nosso corpo aguenta
A alma é o nosso limite
Lá a vida perde a cor
A vontade dissipa no ar
Toda alegria fica escassa
Todo passo vira abismo
A alma grita
O corpo pode ser indiferente
Conviver sem amizades
Silenciar sem sufocar
Atravessar o dia sem ser notado
O corpo pode vagar vazio
A alma precisa do que a complete
Pede um propósito para vida
Coloca um sonho no horizonte
Insiste na felicidade que não conhece
O corpo não sabe seu lugar
A alma tem endereço

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Refeição a meia-noite” (21/08/2012)

Sobre a mesa o silêncio
À meia luz de um pensamento
Na penumbra da palavra
A paz suspira

Entre paredes inertes
Reverbera a falta nos ouvidos
A chance de fuga essencial
Para os meandros do que é próprio

Sento-me neste cômodo
Sirvo-me de calma
Desfaço-me por pedaços
Sou apenas um despercebido

Raros seriam os indivíduos
Que ao jantarem sós
Enxergariam na solidão
A grandeza de ser nada

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Auto condenação” (19/07/2012)

O horizonte se fecha
O vento espalha o frio
O galho seco se quebra
Nada vale o meu lamento

As paredes me cercam
A cama me recolhe
A vida me esquece
Foram minhas escolhas

Sou pedaço arrancado
Sou carta fora do baralho
Sou alma sem lar
Meus amores derreteram

O que criei no espelho?
O que reflete lá fora?
O que sobrará da ideia do “eu”?
Respiro no auge da exaustão

Arranco suas raízes
Despejo seus versos
Dispo-me dos quereres
Pedindo para que me salvem

Se me resta ser culpado
Que o dia gentil me arraste
Farei meu apelo no amanhã
A última instância da esperança


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Clemência” (10/07/2012)

Deitou-se à sombra da palavra
Silenciado pela noite precoce
Um corpo saciado pela vontade
De alma vendida a ilusão

Era fácil confundir as fuças
Como mentiras e verdades
Repetiu-se como mantra a injúria
Terminou como reza a lamentação

Foi o último respiro de esperança
Calado ao pé da macieira
Pecando em troca de vida
O poeta e a rima

Desistiu pela primeira vez
Caia a última máscara
Sem verso para vestir a realidade
Apagou-se também o horizonte

A noite dormirá em paz
Mas para onde irão os desejos?
O mundo acordará em breve
Sem um único suspiro de amor

Durma de olhos abertos
Rasgue seus últimos escritos
Pinte mais um romance
Para que a lembrança nos leve em frente

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Aqui” (02/06/2012)

O aqui é este lugar na beira da madrugada onde o sono não me importa. Quando imaginaria deixar o sonho em segundo plano? Já chorei nesse travesseiro, passei uma tarde muda ao pé da cama. Dormi em desespero por uma resposta, lamentei a distância, acordei vestindo o inimigo. Mais ninguém entrou neste quarto, só essências e contornos das vozes e corpos que impregnaram na alma os cheiros apenas para depois evaporar. Não houve poema, nem lembrança que se agarrasse as paredes. A realidade cansou de substituir a imaginação sem êxito. Flores murcharam e palavras envelheceram. Não posso negar a esses cantos que cheguei sim a desistir. Agarrado as grades da janela profanei. Silenciei todos meus pedidos. Dentro de mim moram cicatrizes e as mais puras verdades. O cru e nu. A face sem intérprete e o sentimento sem voz. Tudo nesse lugar já sorriu, tudo nesse lugar já sofreu, sem que ninguém jamais soubesse. Onde a vida mora, quase ninguém visita. Quantas vezes acabei só…

É por causa deste aqui que valorizo o corpo que por hora dorme ao meu lado. Mudaste meu reflexo no espelho, levaste as dores das paredes. Entrou sem invadir, abraçou sem ameaçar, amaste em reciprocidade…decidiste ficar. Agradeço a cada canto deste quarto, sorrio a cada novo momento marcado. Nem sabes com tudo que convives, mas você destoa e dá novas cores a todo resto. O passado sustenta nossa verdade. A realidade fortalece o nosso amor. Onde a minha vida mora, você também vive.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Confiança” (20/05/2012)

A manhã nasce
O sol deita sobre nosso rosto
E antes que os olhos precipitem
A mente imagina
Na efemeridade do segundo
Somos somente esperança
Desfeita a fantasia
Somos o cru do que tocamos

Um dia insisti
Voltei a fechar os olhos
Abri os braços e caminhei
Mas o mundo tinha se perdido
Os passos eram incertos
A alma não podia partir

Presos a realidade
Os corações ficam inertes
Os sonhos suspensos
Se coubesse nossa vida
Naquele milésimo de promessa

Pois foi em um desaviso
Que meu corpo recostou no próximo
Ancorou-se pelos dedos
E se viu livre para acreditar
Desenhou universos inteiros
E ao abrir os olhos
O sorriso ainda estava lá

Ass: Danilo Mendonça Martinho