“Simples” (17/03/2015)

Que o dia passe
Mas não me traga esperanças
Apenas me leve
Como folha de outono libertada
Que a vida preencha
Os passos os quais não sei seguir
Me conceda um sinal
Para que o horizonte não seja infinito
Que me tome pela mão
As palavras que não devia abandonar
Nas noites frias
Quero apenas um cobertor sem sonhos
Dormir com o peso do corpo
Deixar a alma ir para onde quiser
Que seja feliz
Acabar com a busca sem propósito
Hoje sou pleno
Amanhã poderei ser tudo
Natural é ser livre
Cair no outono….renascer numa primavera qualquer

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Uma árvore a favor do vento” (19/02/2015)

Mais um Sol que nasce
Qual a certeza de que não somos os mesmos?
A distância até o horizonte é ilusão de ótica
Nossa percepção constrói diversas verdades
Nós só tentamos acertar para onde

Nascem ainda mais dúvidas
Protegemos a esperança de um dia melhor
As certezas se extinguem nos segundos
Já é difícil saber o que se quer
O que dirá prever o que será do entardecer
No fim, vontades, são apenas vontades

Acordo na espera de um sinal
Para poder me agarrar em algum sonho
A realidade nem sempre acompanha alma
A vida precisa de um tempo
Até que o vento mude de direção

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Indiferença Urbana” (12/08/2014)

Garoinha fina que não enche represa
Prédios acinzentados que tem coração
Cidade da multidão vazia
Sinto que chora sem colo que te acolha

É mais frio dentro do que fora
O asfalto cobre mas não esquenta
A cortina branca abre e o Sol é fraco
As pessoas te ignoram

Você vela solitária tuas tragédias
A natureza entende o que o humano falha
E no fundo da madrugada gelada
O corpo tem uma ideia, mas não a alma

Se desfazerá em migalhas de concreto
Enxurradas espalharão os seus lixos
Fumaça entupirá suas veias
Enfartaremos em algum horário de pico

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Bença” (22/04/2014)

No mar de decisões maiores que nós precisamos de algumas garantias. Tentamos por todos os lados descredenciar o sonho e conforme a vida nos fazia seguir em frente o medo se diluia na vontade, no desejo, na estranha incerteza de sentir que estávamos certos. Pelos dias que se seguiram a Chuva caiu sobre estes pensamentos. De forma doce para que desistisse do guarda-chuva. Fazia tempo que não encontrava ela assim. Ao pensar na decisão não tive dúvidas e com um sorriso sussurrei: Bença Chuva.
Não lembro bem quando, mas não muito tempo depois, os questionamentos ainda seguiam dentro de mim, embora mais silenciosos. Entre as árvores surgiu aquele brilho intenso do sol quase que de propósito na minha direção. O mesmo Sol que me acordava na infância quando dormia na sala de minha avó. Até hoje é uma das minhas sensações favoritas acordar assim com esse raio de luz preguiçoso, que mal toca seu rosto. Meu corpo ficou em paz e falei sorrindo: Bença Sol.
Na janela confessionário onde debrucei com melancolias, aflições e filosofias adolescentes eu resolvi voltar. Minhas conversas hoje são mais esporádicas, não menos importantes. Agarrado contra as grades sentindo o vento e o céu azul minha palavra não precisa de pressa. Abro o peito para o universo que me criou e tento descrever o gosto dos sentimentos. Mas acima de tudo agradeço, pelo encontro, pela chance, pela felicidade. Bença Céu.
Pela manhã caminhei entre os eucaliptos sobre o chão de cascalho. Posso muito bem seguir pelo asfalto, mas são raras as chances de respirar este ar misturado de nostalgia. A vida parece mais presente em nós, como se tudo pertencesse. Todos acabaram me visitando para dar certezas e eu retribui. Bença Natureza, bença.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“As primeiras impressões de um outono” (25/03/2014)

Pela manhã o asfalto da rua estava enfeitado de dourado e eu esquecido da natureza achei que estava pintado quando era apenas o Sol. São sinais da nova estação. O dia fica a meia altura e encontramos mais coisas pelo chão. Nada deixa de ser belo, o universo é sábio, e a planta que leva o nome de minha avó insiste em florear-se, assim, fora de época. Determinar como a natureza se comporta é mais uma das criações humanas em busca de controle. Prefiro assim: acordamos sob uma brisa gelada e um céu limpo, no fim da tarde talvez chova. A incerteza faz mais sentido.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Olho de Vidro” (13/11/2013)

O vidro rachado range
Remendos não alteram sua natureza
A cada estalo um grito de liberdade
Foi-lhe negado o fim

Ele esta exposto ao tempo
Em uma fileira que parece infinita
Se repetem as marcas da chuva
Impregna os sabores das cinzas

O sol não é o mesmo deste lado
O mundo quase não gira
Um tom envelhecido e cansado
Os pesos de uma eternidade

Tudo que assustava lá fora
Hoje vive nas fissuras
Um dia não vai mais aguentar
Esperança também quebra

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Depois das Estrelas” (30/10/2013)

Nos jogos de sombras da madrugada ficamos a completar os espaços vazios e fugir dos nossos medos mais sinceros. Daqui tudo nasce, de cada penumbra e cada esquina um horizonte aparece por mais que as vezes nos pareça improvável. E eu que acordei meu corpo aguardo para também levantar minha alma. Ninguém nunca está só, mas por mais conhecidos que sejam os rostos eles são paisagem. A véspera da manhã é sempre a hora mais fria. Contra todo o bom senso é no meio de toda escuridão que a gente se encontra. A chuva que cai no chão quase sem vontade é a única coisa que quebra o silêncio da espera, logo a gente repara nas folhas levadas pelo vento e em um suspiro longo e profundo traz para dentro um pedaço da natureza. Sinto o gosto da estação e relembro como se fosse agora todas sensações que me esperam. As pessoas definitivamente mudam, o mundo talvez mude, mas a essência permanece. Não há segredo que é esse princípio conquistado há muito tempo que me desperta todo dia. É o que chamo de vida.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Hoje a chuva só cai”

A chuva sempre me fez companhia
Mas sinto que algo mudou
O cheiro no asfalto,
O sentir da pele,
O sussurro no ouvido…
Tudo parece artificial

É que nem sempre chove para gente
Tem muita melancolia,
Muita lágrima precisando de disfarce
Penso que hoje ela cai
Só para me lembrar que está por perto

A chuva tem muita terra para cobrir
E faz uma coisa de cada vez
Então abri meu guarda chuva
Fiz companhia como bom amigo
Tentando apenas retribuir
Talvez ao tempo ela volte
Com as palavras preciso ouvir

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Precipitação”

Há quem não sinta teu cheiro no asfalto
Quem não reconheça que vence qualquer superfície
E vive a embrenhar-se em busca de almas
Como podem não escutar teus suspiros?

O humano é mais fechado que pedras
O mundo algumas vezes é muito frio
Talvez esse nosso encontro seja raridade
Sabemos que uma paixão pode enganar os sentidos

Tua chegada a noite as vezes me assusta
Contra quem guarda tanta violência?
Acredito que apenas não abandona tua essência
A emoção te leva a todo lugar

Confesso, te amo mais quando sem pressa
Te faz mais companhia que passagem
Sorrio quando você observa a vida
Querendo saber se tudo segue a sua espera

O ar por aqui mudou muito
Mas vejo que isso não te incomoda
Tem fé nos teus desejos
Por mais que eles desaguem

A minha janela permanece aberta
Já acomodei meus braços no parapeito
Minha alma as vezes seca
Saudades de você chuva, saudades de você

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Marasmo”

Lua encheu-se e se apagou
Não mais levantou as marés
Nem sobrepôs a luz da rua
As estrelas órfãs despencavam
Nenhum desejo seria suficiente

O sol não sabia quando se por
Navegar já não era preciso
O romance perdido no breu
A dama partiu sem companhia
Fechou os olhos para nossa vida

A cada sete dias ela chora
A cada sete dias ela cresce
A cada sete dias ela brilha
A cada sete dias ela desaparece
Tudo por aqui permanece

Ass: Danilo Mendonça Martinho