“O segredo da Areia” (04/06/2012)

Sussurrou-se
Como se fosse sagrado
Seguiu-se ao pé do ouvido
O sonho de um poeta

Desenhas-te na areia
Grandes acontecimentos
Postos sobre um soneto
Metricamente dramatizados

A maré tudo levou
Mas a rima ainda ecoava
Repetia a si as palavras
Caminhando para aldeia

Ao despertar os olhos
Era seguido aos milhares
Balbuciavam os mesmos lamentos
Exaltavam as mesmas glórias

Ó poeta do mar
Deixaste teus sonhos na areia
Eis a onda que levou-o
Para que todos pudessem sonhá-lo

O que mais quero eu
Do que uma reza
Se minha felicidade é procissão
Seu lugar é nas ideias

Os versos ficaram sem nome
A verdade sem papel
Uns lembravam de um conto
Outros ainda buscam os sonhos

Sussurrou-se….


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Expirando-se” (14/05/2012)

A carapuça serviu
Como máscara de baile
Acostumou-se com a fantasia
As paixões que ardem
Os contos que acordam
Veste-se esse sorriso barato
Despe da realidade vigente
As verdades e a razão
O lógico e o possível
O só se tornou todo
Como se não pudesse ser mais nada
Abandonou a si no espelho
Saia com a roupa de outro
Abria jornais os quais não lia
Dormia sobre sonhos desconhecidos
Passos sem caminho
Mandava cartas para si
Nunca chegaram
Mudou-se de alma
A existência lhe ficou vacante
A insensatez é humana
Que ao sentir abdica do “eu”
Mesmo fazendo parte do “nós”

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Norte” (25/04/2012)

Somos rascunhos
Traços a procura de continuação
Não há borracha no caminho
Temos que assumir toda imperfeição
Peças aparentemente sem encaixe
Mas desvios são necessários
A vida não se completa em um círculo
Começa em serra sinuosa
Termina em planícies extensas
É tudo uma questão de rumo
Nascemos sem, vivemos com
Sejamos além do horizonte


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Paradoxos Existenciais” (18/04/2012)

Sou palavra
Entrelinha em fuga
Um subjetivo traço
Em um horizonte contínuo

Serei fiel ao verso
Mesmo que a ti tudo esconda
A verdade jazerá aqui
Impublicável e exposta

Posso ser um imaginário
Pura construção
A ficção também existe
Basta vestir a fantasia

Como ser humano
Passível de um fim
Livre nas escolhas
Incapaz de dizer o bom ou ruim

No futuro não sei
A consciência é viver
O passo não vai tão longe
O sonho faz o que quer

Indeterminado sujeito
Oculto minhas intenções
Postergo meu respirar
Num pretérito de palavras

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Antiga morada da paz” (28/02/2012)

Conheço muitas terras distantes, fictícias ou não, onde vagam corpos inóspitos. Lugares que passei procurando vida, que me juntei aos outros, que fugi de tudo. Há lugares, assim como o mar, aparentemente homogêneos, mas cheios de imensidão submersa. Caminhei, por muitas vezes, sem ser o único, o primeiro ou o último. Todos partimos para longe quando crescem nossas inocências, quando uma primeira parte de nós não pode mais acreditar. Vivi a esmo entre sonhos e passos. Acima de tudo, o incerto ficou companheiro e o resto virou uma tentativa de voltar. Não é fácil. Não posso dizer exatamente que sofri. Abracei solidões. Apaziguei dores. Acho que todo corpo encontra lugar nesse mundo, sozinho. Só depois de estabelecermos o “eu”, podemos pensar no “nós”. Foi em terras distantes que amadureci, em amores longes dos meus, em sonhos efêmeros, em sentimentos em construção. Só assim pude de encontrar completo. O mais surpreendente foi nos encontrar. Voltei.

 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Sexta Passada” (20/01/2012)

Sexta-feira minha amiga
Acordaste-me num século distante
Onde os cavalheiros e damas
Cortejavam-se por cartas
Sou uma noticia que tarda
Ainda a vencer a estrada
Meu papel a esmaecer nas intempéries
A palavra a resistir pelo destino
Quantos passos ainda nessa eternidade?
Em que vale tu me escondes?
O sol voltou a se por longe
Acreditei em você em última instância
Conceder-me-ia o encontro anunciado
Mas me fará desbravar-te inteira
Empunharei minha espada por ti
De você sexta arcaica
Espero que me leve de volta
Aos braços que jamais de partiram

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Amor Desengano” (07/01/2012)

São as flores no jardim
Os contornos do sonho
A entrelinha da poesia
O desejo inconsciente
A imagem idealizada
Uma esperança no horizonte
Um desencontro constante
Tem cheiro da brisa do mar
Monta um cavalo alado
Deixa presentes na varanda
Confunde-se com o vento
Levanta a saia
Preenche a alma
Põe teus pés no chão
Cega-se por tua beleza
Declara ao pé da porta
Discursa ao pé do ouvido
Releva teus medos
Conhece todo seu gosto
Surpreende todos os dias
Enfeita teu caminho
Adorna teus cabelos
Não solta tua mão
Abraça sem amanhã
Não pede nada mais
Basta-se no olhar
Vive do sorriso
Projeta tudo para o infinito
É uma construção abstrata
O amor…são várias ilusões
Antes de ser realidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Omissão” (03/01/2012)

Você é minha palavra em silêncio
Não conheço significado
Foge toda vez que tento
Temo que nunca volte
Mesmo assim me rodeia
Não quer virar esquecimento
O mundo jamais te assustou
Muito menos os julgamentos
A liberdade te prende
O que fará longe do coração?
Sabe muito bem teu propósito
Descobriu, talvez cedo demais
Nasceste amor…
Nada te calará

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Benção…” (23/11/2011)

Fazia dias que caminhava entre nuvens. Não pedi nada para hoje, não esperava muito, no máximo minha alma livre. Ao abrir a janela eis que não há uma nuvem no céu. Um azul inocente, de algum dia puro do passado. Era impossível não sorrir diante a benção do Sol. Se alguns dias atrás, foi entre as gotas que tentei te alcançar, hoje são os raios dele que vão envolver nossos desejos. Pareceu tão apropriado, um sinal de boa sorte para o futuro. Sorri pela chance. Vamos desenhar nosso querer e, quem sabe, ele não se complete…

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Liberdade de ser” (12/11/2011)

Na beira do hoje há uma promessa
O pôr-do-sol confunde com sonho
No que se pode tocar?
O que me esfria as entranhas
São essas eternas imagens de desejos
É tão fácil inserir-se na ilusão

Foi o querer desesperadamente
Levou-me além da sinceridade
Disse palavras que me engasgaram
Mas a vontade não era sentir

Apenas isso me incomoda no sonho
Saber onde traçar o limite
Não me é saudável remoer tantas possibilidades
Meu caro dia, não posso comprar tua esperança
Hoje é necessário viver.

Perverso é tudo permanecer chance
Alforria ao talvez.

Ass: Danilo Mendonça Martinho