“Mais do que silêncio” (20/06/2014)

Não sei até onde posso
Muito menos se devo
O seu íntimo é cheio de nervos
Como de tantos que se protegem
Mas saiba que em qualquer distância
Seremos sempre um porto
Famílias sempre abrem os braços
Ignoram tempo e palavra
É o que há no fundo de toda ferida

Se me abrisse os olhos
Lhe diria sobre um coração bom
Que necessidade não faz amar
Que a felicidade tem que ser de dois
Você não pode ser apenas sacrifício
Só que não me cabe dizer
Você sabe exatamente o que viveu
Saber nem sempre é consciência

Se ao menos tivesse o tempo
O passado não te perseguiria
A escolha seria mais que consequência
Em paz com tudo que já foi
Poderia descobrir o que quer
Se não ficasse apenas no silêncio
Alguma palavra podia alcançar a alma
Há mais do que você vê ao seu redor

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“O que vocês nunca entenderam” (07/05/2014)

Para mim nunca foi uma questão de curiosidade, de saber como era pegar na tua mão, de como era sentir um beijo, descobrir os sentimentos, explorar os limites do corpo e a profundidade das palavras. Não! Eu amava. Sempre quis tudo, o compromisso, o namoro, a companhia, a ideia de ser feliz por um tempo indeterminando, sem me importar que fosse durar para sempre. Eu tinha essa certeza, eu tive essa certeza talvez cedo demais, é difícil saber o que quer, você acaba excluindo outros caminhos, mas a verdade é que desde sempre minha alma só quis ser completa e não me parecia que isso poderia soar como pedir demais. Talvez se tivesse olhado para outras mulheres e só tentasse perceber quem me queria, quem sabe teria outras histórias para contar, só que decidi ser fiel ao que sinto e isso para mim jamais foi ilusão. Certo ou errado, escutei o coração. Doeu, sofri, mas jamais duvidei do que queria, do que já sabia que precisava para ser feliz. Não julgo sua decisão, estou aqui para expor o lado que não sabia como fazer antes. Querendo ou não, ninguém pensou em mim, e qualquer solução é fácil quando preferimos ignorar o outro. No dia que a moeda virou eu soube dizer não, uma das coisas mais terríveis que já fiz, mas que me deixou em paz, a sinceridade tem seus contras e suas recompensas. Tudo bem, só silêncio também serviu. Cresci e hoje entendo que não era de bom tom se entregar por inteiro, a “culpa” foi desta minha estapafúrdia ideia de um romance. Carreguei, tempo demais, longe demais, hoje cheguei, mas essa outra é história. Não estou cobrando para que me entendesse, mas que me entenda, acho que você cresceu também e pode entender o que é amor e uma pessoa em busca de sua felicidade. Um olhar de fora se apressará para julgar de tolo, apaixonado, um incurável e concordaria se hoje não soubesse que não fui nada além do era, do que em muitos aspectos ainda sou e assumir o que se é, tem consequências. Estava disposto e aprendi, me orgulho, pois não são muitos que podem dizer isso. Te peço da minha mais profunda sinceridade que entenda, não para que me procures com desculpas, nem muito menos para que possa perdoar-te, teve vítimas, mas não culpados. Eu te peço para que também possa encontrar no passado o que ainda deve ter dentro de si, aquilo que te move, aquilo que jamais deve tirar de sua cabeça não importa a dor que venha no caminho, a felicidade vale cada lágrima. E guarda contigo meu poema, ao menos o vaso das flores, o meu primeiro beijo, lembre do sorriso e não da partida, da noite que passei no seu sofá e não dos anos sem se ver; Guarda e saiba que nesses momentos fui completo, despido de tudo, real. O que você nunca entendeu é que para mim amar nunca foi menor do que isso, e isso merece respeito.
 
Ass: Danilo Mendonça Martinho
 

“Ser ou não ser” (12/03/2014)

Tem sombras que são silêncio
Cadeira, mesa, cama, pia
Até mesmo no teto
Mas nunca pensei em companhia
Não ouço nem seus passos
Abriu e fechou a porta
Só que jamais entrou
Apenas te trombo nos cômodos
Sem ameaçar palavras
Tua presença parece memória
Não interfere na minha rotina
Suas respostas são burocráticas
Penso que existimos….
Mas não como nós

Presença exige mais
Realmente não estou aqui
Meus planos estão todos de saída
Nesse lugar que será visita
Criarei também novos laços com o silêncio
Agora isto não faz sentido
Não existe preparo para queda
É preciso dizer enquanto é tempo
Não imagino essa casa vazia
Espero que a deixemos juntos
Mesmo sem o mesmo destino
Penso que o “nós” é onipresente….
Mas há o que deixou de existir

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Na falta da tempestade” (05/02/2014)

Uma cidade que não chove não tem bueiros assim como um coração que não sente não tem cicatrizes. Precisamos de tudo, especialmente da dor. Nossas alegrias nos completam, nos dão força, esperança……nossas dores nos moldam. Acho realmente difícil de acreditar que seu caráter não tenha se formado por uma angústia se quer. Embora improvável não seja impossível. Caso acredite fielmente nesta teoria quer dizer que a vida ainda te reserva uma mágoa para apontar a direção. Não me veja, por favor, como algum melancólico pessimista, na verdade sou bem feliz. Apenas estaria sendo no mínimo desonesto com todas aflições da minha vida, adolescente e adulta, a não creditá-las nada do que sou hoje. Mudei para não me sentir mais assim, mudei para encontrar o bem estar de minha alma, mudei e continuo mudando em busca do meu melhor. Lembro claramente das dores e vitimização dos meus sentimentos. Aprendi que só vivendo o outro lado da moeda poderia crescer. Nem toda dor tem culpados, apenas participantes. O fato é que a perda, a ferida, mexem conosco. A inércia perante este incômodo vai te consumir, te fazer até mesmo desaparecer. A solução é agir em busca deste lugar onde possa encontrar paz para tudo que te inquieta. É um erro pensar que vai passar ou que vai partir. Tudo que é nosso fica, principalmente a dor. Precisamos nos resolver para estarmos preparados para viver e sempre há muito por viver. Esteja disposto a sentir pois não há lugar no mundo que não chova, o pouco que seja.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Longe, tudo, já não será”

Você está pensando no agora
Cercado de memórias
Inundado pelo próprio pranto
Ainda com o calor do aconchego no rosto
Não vai enxergar o horizonte
Não vai enxergar o próprio nariz
O passado tomou conta
No minuto que decidiu partir
Tudo que achou que ia levar
Terá agora de ter fim
Mais uma caixa no maleiro
A vida passa pelos olhos
Não é preciso morrer
Basta o amor
Serão reveladas as feridas e o vazio
O infinito é maior que a alma
Como queremos caber?
É que o sentimento não tem fim

Espere pelo depois
Cada palavra é um vazio a menos
Cada passo é uma imensidão
Descobrirá o espaço dentro de si
Tudo que deixa de crescer
Um dia cabe na palma da mão
Aquele amor que era envolto em dor
Vira uma pequena felicidade
Destas que se pega de lembrança
Para tudo que acaba nesta vida
Existe uma distância

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Pesadelo”

As pupilas dilatadas procuram saída
Mas o corpo é inerte diante a palavra
O amargo envolve a língua
Goela abaixo a notícia do adeus

A tempestade cai junto com a noite
Sem chance de pedir a nenhuma estrela
Nosso desencontro é completo
Desejo, destino e alma

O silêncio aguarda meu consentimento
Que direito tenho sobre sua escolha?
Que suplica poderia mudar o fim?
Anulaste o que sou e o que sinto

Deito na cama que me sobrou
Meus olhos não sabem para onde ir
Sabem que estão em um pesadelo
Também sabem que já estão acordados

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Deixe Estar” (05/10/2013)

A vida precisa de uma fresta
Construa você suas muralhas
Vista suas armaduras
Ou aprisione as palavras

O coração precisa de uma migalha
O abraço que rejeita
O sorriso indireto
Até mesmo a promessa falsa

A alma precisa de um respiro
A lágrima que escapa a multidão
A verdade omissa
Declarar-se sem ser interrompido

Nos dias que são dor
Deixo minha janela aberta
Por lá tudo escapa
Enxergo um pedaço do horizonte
Misturam-se todos meus suspiros

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Permanente”

Sinto falta da vontade
Será que ela sempre me faltou?
Hoje o mundo está de portas abertas
E os braços são curtos para alcançar

Sonho muito mais que já sonhei
Quero muito mais do que já quis
Em algum lugar sei que posso
Mas a cobrança lembra e machuca

Pensamos que é tudo para amanhã
Mas na verdade é tudo para vida
É preciso passar pelo meio do caminho
Mesmo sabendo que podemos mais

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Um Lugar Melhor”

Eu sempre abdiquei o porquê das palavras. Sentia e me parecia tudo. Também sempre soube ser um dom, um encontro permitido aos meus ouvidos. Talvez somente agora posso aceitar, entender e assumir a grandiosidade da poesia. Posso fazer do mundo um lugar melhor. Pode ser um canto, uma vírgula, um quase nada, mas posso. Não é algo que se abdica sem consequências para alma. Nosso talento é o sinal mais claro da nossa busca nessa vida. Ele tem que permear todas nossas atitudes, toda nossa essência. Viver significa ser tudo que se pode, sem restrições a nossa alma. Tantas vezes somos conformados a nossa realidade que o potencial vira segundo plano. Permanecemos a caminhar incompletos. Não, a vida é mais. Não sei quais são minhas chances, jamais saberei ao certo os resultados, mas tenho a palavra e farei dela o melhor que puder, eu apenas te peço que me ouça.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“O invisível”

Há muito menos destino
E muito mais ações
Dando as cartas nessa vida
Mas não posso ignorar
Os impulsos da alma

Caminhar se torna tão banal
A paisagem quase nem afeta
Nem mesmo as transgressões
Tantas vezes queria levantar a voz
Motivos não nos faltam
Mas a palavra sim

Há remorso em certos silêncios
A frase nunca dita fica
Enraizada se repete
A vontade cega de ter mais uma chance
Responder à altura
A troco de quê?

Do mesmo jeito que calo
Outras vezes falei
Algumas exatamente o que queria
Não há diferenças
A revolta é a mesma
Há uma dose do desconhecido

A palavra hesitou
Salvou minha vida
A fraca resposta
Serviu de aviso
E as vezes a verdade nua
Se fez necessária

Algo sobrepõe nossos atos
É raro, mas acontece
Talvez demore a consciência
Devemos muito a este “improvável”
Consequência é mais que retrucar
É tudo que se leva para alma

Ass: Danilo Mendonça Martinho