"Puro" (07/02/2015)

O que há de mais sincero em ti?
O que sem sombra de dúvidas é livre?
O que você pede quando tem a oportunidade?

Não podemos ter medo de querer
Não devemos duvidar da nossa grandeza
Não há nada mais forte que a verdade

Se pela manhã apoio os pés sobre o que acredito
Se pela noite apoio a cabeça sobre o que conquistei
Se meu sorriso encontra nos sonhos felicidade
Sei ao menos para onde ir

Desconheço meu lado mais sincero
Desconheço a liberdade da minha alma
Desconheço a certeza sobre o que quero
Só conheço a palavra e recuso a me calar  

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Não feche seus olhos” (20/01/2014)

Eu não devia saber significados, não que hoje tenha muito o que explicar, só que a beira da minha janela era meu esconderijo. Uma época onde os minutos admirando o céu azul e deixando a cabeça livre não geravam culpa. Depois de criança toda pausa tem que ter porque. Mas segue dentro de mim a janela aberta de frente para este mundo de contrastes. O que cabe entre a árvore e o concreto? Nem tudo é céu. Tento preencher de sonhos, mas há tanto que não está em nossas mãos. É preciso se projetar no infinito para se sentir parte deste todo. É preciso estar distraído o suficiente para pensar em nada. É preciso libertar sua consciência da culpa. Ninguém pode te prometer o horizonte, apenas a janela.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Notícias de um passado” (17/10/2014)

Foi em uma viagem sem propósitos e com uma noite mal dormida que se encontrou preso no banheiro. Do lado de fora sabia que já se resguardava acordada a mulher de qual a razão queria distância, mas que o corpo e suas necessidades afloradas pela manhã lhe atacariam sem forças para evitar. Por um mero instante esperou e conscientemente deu descarga nos seus pudores e teve primeiro a certeza de ter chamado atenção, para depois sair cheio de libido e encarnar os sonhos que nem eram seus. Seria uma escolha de um caso de uma noite que provavelmente não afetaria em nada teu agora, mas foi evidenciado claramente a marca de uma vida naqueles lençóis, uma dobra, uma fenda, uma decisão profunda, uma construção de caráter, um tornar-se, uma mudança.
Nesse mesmo lugar, tempos depois, alguém vulnerável, disposta a deixar, por um instante, seus princípios, gostos e vontades. Pronta para ser sugestionada a aceitar a ideia de que o diferente era a saída para seus pensamentos ligados a quem não estava ao seu lado. A proposta de experimentar uma alternativa para ser feliz. Deixar tomar seu corpo meio apagado pela tristeza e quem sabe poder se esquecer enquanto o outro pudesse se enganar. Num acordo velado de almas que precisam, e até uma mentira serve para sobreviver. Um dia a verdade estaria ali como a única coisa que sobraria, uma dor que talvez até não fosse tão grande já que não houve entrega, mas, ainda assim, uma dor suficiente de envergonhar olhar na cara. Aqui não saberia dizer o tempo que isso duraria, mentiras tendem a ser altamente autossuficientes, encontrando palavras e meios de seguir de uma forma cômoda e imperceptível. Essa lembrança tem contornos mais fortes de mudança, e talvez uma que te levasse para sempre longe desta agora tão mais real, tão mais verdadeiro, tão mais completo. A verdade é que mesmo com todo este potencial, aquilo jamais pareceu uma opção.
Há muitos outros momentos por aqui. A garota que comentava com amiga, e nunca teve a coragem de perguntar o que era. Aquela pergunta inconveniente no ônibus vazio. As pessoas que te acuaram e as quais você nunca prestou atenção. No fim deste tempo sempre beira uma única coisa, consciente ou não, emoção ou razão, tudo foi sempre uma escolha, e escolhas são o puro resultado do que somos, ou éramos. As notícias que te trago jamais poderiam fazer parte de quem você é. Siga em paz, pois tudo aqui já está.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Antigas ilusões” (17/10/2014)

Já não me importa o sentido que vai seguir o trem
Teu rosto recostado contra o vidro será desconhecido
Meu destino tem outros caminhos agora
Onde a descoberta já não está do lado de fora
Belezas me passarão os olhos como paisagem
Abraços e beijos me são apenas lembranças
Meu coração sabe, pela primeira vez, para onde voltar
A felicidade só precisa de uma vez
Será por dentro de nossas almas que construiremos
Nossos olhos, corpos e gestos fizeram sua parte
Seremos agora um para o outro
Há tanto espaço quando se juntam vidas
Setenta e dois metros quadrados de sonhos
E cinco janelas para o horizonte
Pelo menos aqui não preciso de mais nada
Quem diria que quando pegava outro vagão
Diferente das mulheres que me chamavam atenção
Sempre estava no lugar certo

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Sobre o que não passa II” (14/10/2014)

Sinto ser eu a lhe dizer, mas o tempo não vai esquecer a sua dor. A marca debaixo da pele é perfeitamente visível no espelho. Não há como apagar o que faz parte de quem você é. O sentimento tem intensidade, tem gosto e algumas vezes até mesmo forma, mas não tem cura. O tempo só pode te dar distância e por mais que possa ficar longe daquele momento não há como separar de si. Somos profundamente entrelaçados as nossas escolhas e somos, em maior ou menor quantidade, os seus resultados. A dor é um componente da alma humana que só podemos equilibrar. E aqui, antes que desista de ouvir as minhas palavras eu te aviso: há sim uma escolha. Você pode deixar a cicatriz te guiar por completo ou fazer dela apenas uma parte. A lembrança pode ser um tormento ou apenas um suspiro lamentando o que já não é mais. Saber que não há nada que te preencha por completo, não importa o tamanho do que sinta, a vida tem espaço para tudo. Sinto em te dizer que sempre terá essa dor, mas me apresso em te dizer que lhe cabe uma felicidade ainda maior.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Na falta de rima” (29/09/2014)

Os poetas contemporâneos escrevem seus sonetos
Milhares de sílabas poéticas calculadas
Rimas de um vasto vocabulário
Jogos de significados em meias palavras
O poder de sintetizar nas entrelinhas de um verso
Dizer mais através do silêncio

Eu sigo sem algum limite determinado
Algumas vezes prosa e outras, poesia
Fazendo uso de toda e qualquer palavra
Talvez sendo o mais comum delas todas
O alívio do peito não me pede métrica
E talvez por isso não tenha espaço no mundo

Somos aquilo do que não podemos fugir, não é mesmo?
O sentimento ganha formas estranhas
Só que no final do dia, depois de cada verso
O que importa se é inspiração ou desabafo
O coração só não que ficar calado
Com sorte encontrar uma alma que responda

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Despedida” (16/09/2014)

Me apaixonei pelas entranhas do sentimento
Pela diferente perspectiva dos seus olhos
Da entrega plena as mazelas de querer
Do tempo indeterminado dos amores e das dores
O mergulho pelos pesares em suas profundidades
A distância do mundo em minhas particularidades
Há uma parte de nós que sempre será extremamente só

Querer estar sozinho não é um problema
Mas encontro muita coisa fora do lugar
Coisas que chegam até a flor da pele
Percepções fora de qualquer proporção
Uma correnteza que não leva, puxa sem cessar
Encontro-me com inúmeros cenários familiares
O mundo onde tudo ficava aquém

Chorei neste chão, me apoiei nessas paredes
Tudo me parece muito tempo atrás
Aqui aprendi a ser livre para poder ser feliz
Meus cantos mais escuros me ensinaram a paz
Minhas recorrentes lamentações deram lugar a fé
Alguém acreditou em mim antes que eu pudesse
Então depositei a esperança em mim e nos meus desejos
Com o tempo, fiel à minha alma, a felicidade me encontrou

O caminho para fora de si não se esquece
Também não é fácil deixar o que sempre fomos
Deixo-me abalar pelos incômodos da rotina
Martirizo minha insuficiência nas conquistas
Dramatizo o cotidiano com novos enredos
Até hoje descobrir que não preciso mais ser
A palavra não precisa de dor para existir

Melancolia, companheira de longa data
Sei que ainda venho te visitar
Mas jamais novamente para ficar
Preciso muito mais da minha paz
Preciso caminhar com meu peito leve
Aproveitar todo sorriso que posso
Sinalizar para que a felicidade saiba para onde voltar
Entender que não preciso mais estar aqui

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Trabalho” (06/08/2014)

Como é difícil não reconhecer um rosto
Nem estou falando de um amigo
Alguém que não te olhe torto
Alguém que tenha um sorriso sincero
Um porto onde exista algum espaço para ser livre
Um olhar que não saiba seu sobrenome,
Mas esteja disposto a escutar
A obrigação, o desafio, o crescimento,
Não surtem efeito diante o mal estar da alma
Eles resistem por um bem que desconhecem
O que fazer quando só sobra espaço para sobreviver?
Não quero mais favores
Chega de estar nos comentários alheios
Ser peso, ser pedaço, ser carregado
Prefiro ser apenas só

O olhar sem confiança
A companhia sem laços
O fim do dia que tudo leva,
Sem nada para esperar do amanhã
É um deserto de sentimentos
Onde qualquer verdade revelada já gera arrependimento
Andar eternamente no limite entre ser e parecer
Talvez a falha seja minha,
Não saber viver só o burocrático
O profissional sem o humano

Queria contar qualquer bobagem
Queria contar que não estou conseguindo ser completo aqui
Me desculpar por ser ingrato diante a chance
Mas também poder ser livre de sentir
Encontrar um jeito de respirar que não seja pela palavra
Encontrar vida mesmo que não seja no outro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Crer, sentir, viver” (25/07/2014)

Sou feliz
Crer foi meu primeiro sinal
Palavras não me faltam
Mas sim a coragem de dizer ao mundo
O temor do olhar alheio
Sobre tudo que nos faz bem
Nos vestimos de problemas
Para proteger a alegria
Passamos a vida a buscar
E disfarçamos quando podemos sentir
O que a felicidade ofende….
Por que o sorriso não contagia….
O melhor de nós fica entre paredes
Deixamos de brilhar para o mundo
Não irrita querer ser feliz
Incomoda chegar lá
Mas a existência deste lá
Não deveria ser motivação para seguir?

Sou feliz
Sentir foi meu segundo passo
Uma espécie de liberdade
Remar contra a corrente
Descobrir-se no impossível
Ignorar o senso comum
Abraçar quando me disseram para fugir
A perda de fé também quer adeptos
Eu sei porque também não acreditei
Apenas a tentativa de ser feliz
É uma ameaça a todos que ainda não conseguiram
Nos dividimos entre os que tentam
E os que se irritam com o sucesso destes primeiros

Sou feliz
Viver foi meu melhor gesto
Minha palavra não pareceu mais solidária
Somos vítimas de uma matemática improvável
Há muito mais dores atrás dos olhos
Boa parte é mais costume que realidade
Mesmo assim eu apelo para que não se conforme
Todos podem e tem o direito de ser feliz
Não queira, não seja menos do que isso
Eu gostaria que a alegria fosse tratada melhor
Sem inveja ou sem tanto descrédito
Não omitir seus meandros mais lindos
Mas eu sei, o choro só quer um semelhante
Não quero trazer apenas uma promessa
Então trago duas palavras
Encontrei-as no meio de minha melancolia
As primeiras indicações de uma saída
Não acreditei em mim, acredite em você

Sou feliz

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Guardados” (16/07/2014)

Cada palavra marcada
No papel envelhecido
Tem nome e sobrenome
Não sei se foram raras paixões
Sei que foram as minhas
Sei que sou produto delas

Meu passado está escondido
Até mesmo de minha memória
Não sei o que encontrar na cômoda
Num canto discreto de minha alegria
Não sei o que guardar de minhas tristezas
Parte de mim está numa caixa de sapatos

Ali jaz muito do meu romantismo
O mesmo que não preciso mais esconder
Amei mais palavras do que pessoas
Mas elas acabaram mudas
Uma solidão que não se calava
Não sabia ser o que sentia

Amei na proporção de vidas inteiras
Reconstruí nítido ao toque meu futuro
O tempo consolidou as fronteiras da minha dor
Tirava do coração pedaços completos
Vi a perfeição em tudo que beirava a realidade
Findaram como folhas de outono meus romances

Lá no fundo dessa bacia de almas
Me reconheço sem querer voltar
O que aprendi me faz feliz
O que senti me faz inteiro
Do que ficou apenas a certeza
Minha gaveta amou mais do que eu

Ass: Danilo Mendonça Martinho