“Encontrar-ser” (09/04/2015)

Não me resta ser poeta
É tudo que sou antes de ser resto
Nem sempre fazemos o que somos
Fazemos de nosso todo uma parte
Pedaços espalhados pela sala de estar
O espelho ignora o que não esconde
A fé cega no que podemos ser
Não enxerga o que já não sou
A palavra procura rima
A vida procura seguir
Ninguém está pronto para ser todo
Só que não há nada que me resta

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Livre arbítrio” (12/11/2014)

Viver definitivamente é uma possibilidade
Respirar é um ato tão involuntário que não se sente
Caminhar pode ser apenas uma questão de inércia
Falar é algo que se aprende imitando o outro
Nossa existência segue o que lhe é natural

Viver é artificial
É uma criação puramente sua
Não existe sem vontade
Não se completa sem ação
E mesmo com esta consciência, não é uma certeza

Viver é incômodo
É preciso todos os dias seguir pelo desconhecido
Ser nômade de corpo e alma
Entender que não há lugar a salvo
E eventualmente abandonar o que já construiu

Viver é paradoxal
Continuar quando todos dizem que não
Querer com todas as forças o impossível
Acordar mesmo sabendo que nada mudou
Ter esperanças de encontrar o que ninguém prometeu

Viver é quase que improvável
A verdade é que é uma pulga atrás da orelha
A curiosidade que nos convence para mais um dia
Há muito neste mundo que é líquido e certo
Mas e se resolvermos viver…

Ass: Danilo Mendonça Martinho