Ass: Danilo Mendonça Martinho
Categoria: Sociedade
“Questões de Gênero” (18/08/2014)
Todo homem é igual
Não importa o tamanho do coração
Barba, cabelo ou bigode
Tenha a inteligência que for
Vira a cabeça para mini saia
E calça branca até no varal
Todo homem é igual
Ataca quando se sente acuado
Vulnerável despeja atrocidades
Diminui os sentimentos do outro
Magoa antes que o atinjam
Sem se preocupar com o final
Homem é tudo igual
Diz amar antes de entender
Atropela corações pelo caminho
Abandona alma sem saber que ocupou
Faz uso das palavras, não dos significados
Aprende a não olhar para trás
No mundo onde tudo é igual
Sentir também vira estatística
Muitos sofrem pelos votos de alguns
O indivíduo se dilui no todo
Sem chance de defesa
Os erros falam mais que qualquer acerto
Toda unanimidade é burra
Só posso defender a causa
Dos que reparam no olhar e no sorriso
Dos que oferecem conversa e não romance
Dos que não prometem felicidade,
Mas também não chamam atenção
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“A idade” (10/07/2014)
Ônibus sobe a Lins
Nenhum ônibus sobe mais a Lins
Assim se fecharam as portas do passado
A senhora permaneceria na espera
Pelo ônibus que não viria
Subimos a Lacerda, não serve, vou embora
Decidiu o motorista sem explicar
Mas também não entende a senhora
Ele não sabe como o tempo passa diferente
Como é difícil mudar quando se foi a vida toda
Faz tempo que mudou
Impossível ela não saber
Indagações e comentários tardios
Tínhamos partido sem dar chances
Nenhum tempo faz mais do que ela
É um desrespeito que passe sem lhe dar atenção
É insano a pressa que deixamos tudo para trás
Tenho pouco tempo aqui
Penso que também não sabia
Envelhecer não são as nossas mudanças
São as mudanças que desconhecemos
Tudo que nos deixa parados no ponto
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“O outro lado do asco” (17/02/2014)
O que cheira mal é a culpa
O que não consigo olhar é reflexo
E seja qual for seu sentimento
Já se provou insuficiente
O ser humano está sozinho
A miséria é a nossa realidade
Que o salário apenas esconde
Papel tem mais valor que gente
Toda angústia logo passa
Muito antes de qualquer reação
Cúmplices de olhar e de silêncio
E nem é questão de pena ou de palavra
Todos levantamos paredes
E acreditamos levá-las porta afora
Nada nos separa do humano
Nem mesmo este fedor que sente
Parece impotência social
Pedir aos céus que lhe ajude
Escolhemos deixar para o outro
Tudo que não sabemos como mudar
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“Paixão Nacional” (10/02/2014)
Não nos falta inocência
A magia ainda existe
Mas sobram máscaras
O que sobrevive sufocado?
Ameaçado por interesses
Iludido pelo poder
O sonho não é ser um grande
O sonho hoje é posse
Ter é mais do que ser
Fabricamos um universo inteiro
Frágil e instável
Não existe um caráter sólido
Tudo desmanchará posto a prova
Hoje as beiradas cedem
As rachaduras estão por todo lado
Uma paixão deixada assim
Causará profundas marcas
Mas não posso evitar a curiosidade
Que brasileiro nascerá do outro lado?
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“Educação”
O normal é olhar em frente
Acreditar na mudança do futuro
Mas o futuro é uma questão de passado
Se para eles tudo é normal
Das atitudes aos pensamentos
Nós já comprometemos este horizonte
Toda formação de caráter é social
E nossa sociedade peca pelo exemplo
Valores muitas vezes não sobrevivem as ações
E se…aquele pode, podemos também
Nosso passado nos condena
E mesmo conscientes não mudamos o caminho
Por cima das falhas construímos
Eis aqui seu castelo de cartas marcadas
Só consigo olhar para o lado
Não dá para encarar tantos rostos
Todos já fora do alcance
Minha palavra será tardia
Minha esmola será vazia
Apagado dentro do sistema
Estático perante a realidade
Os jovens de hoje
São o passado de amanhã
E me assusta dizer
Ainda não mudamos o mundo
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“O dilema de um bom dia”
“Não será amanhã”
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“Um dia de Cão”
Ass: Danilo Mendonça Martinho
“Travesseiro de Pedra”
No calor o concreto esquenta que nem fogo
No frio parece um grande bloco de gelo
Em que temperatura fica a alma
Que por hora descansa o corpo sobre ele?
Já quase arde o Sol do meio-dia
Sei que o redor não lhe passa despercebido
Mas sua presença é alheia a realidade
A cama em meio a ladeira traz silêncio
Aqui não se divide a miséria
Nem com o gesto, nem com a palavra
Subimos como quem tem fome e sede
Subimos porque podemos saciá-las
E aquele sem nome fica com o frio do nosso olhar
A sociedade só nos cobra indignação
Ele é apenas resto da conta que não fecha
Somos todos denominadores desta equação
O mendigo na rua de casa…
É nosso resultado
Ass: Danilo Mendonça Martinho