“Livre arbítrio” (12/11/2014)

Viver definitivamente é uma possibilidade
Respirar é um ato tão involuntário que não se sente
Caminhar pode ser apenas uma questão de inércia
Falar é algo que se aprende imitando o outro
Nossa existência segue o que lhe é natural

Viver é artificial
É uma criação puramente sua
Não existe sem vontade
Não se completa sem ação
E mesmo com esta consciência, não é uma certeza

Viver é incômodo
É preciso todos os dias seguir pelo desconhecido
Ser nômade de corpo e alma
Entender que não há lugar a salvo
E eventualmente abandonar o que já construiu

Viver é paradoxal
Continuar quando todos dizem que não
Querer com todas as forças o impossível
Acordar mesmo sabendo que nada mudou
Ter esperanças de encontrar o que ninguém prometeu

Viver é quase que improvável
A verdade é que é uma pulga atrás da orelha
A curiosidade que nos convence para mais um dia
Há muito neste mundo que é líquido e certo
Mas e se resolvermos viver…

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Desapego do Destino”

As coisas não são como deveriam ser
O dever é um atributo altamente humano
A necessidade de se manter a ordem
Um plano traça sonhos, não crava pedras
A vida reinventa-se na menor das distrações
Por que não mudar também?

As vezes se adia tanto encontrar um amigo
Ele nos encontra no meio de uma rua
Que ninguém deveria estar
Estar em algum lugar é muito mundano
Todo lugar é para se estar
Todo dia foi feito para se encontrar

Tenho a total impressão que não sei do que preciso
Uma leve ideia para onde ir, a certeza de querer
Para não me sentir perdido fiz acordos
Um sorriso sincero a qualquer hora
Imaginar por alguns minutos meu futuro
Lembrar de alguém sem distâncias
Saber que as coisas são independente de dever
E por fim, se faltar uma companhia
Que o vento possa ser nosso abraço

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Um caminho”

Quantas vezes diante meus olhos passaram oportunidades que conscientemente disse não? Fui julgado e condenado mais de uma vez por não viver a vida. Criticado por não ir nos lugares onde só se pode ir uma vez. Não fazer as viagens que todo mundo naquela idade também fez. Infelizmente nesta época eu só sentia e não sabia dizer. Não sou bom na briga rápida por palavras, mas se pudesse diria do fundo do meu peito que escolhia aquilo que me faria feliz. Talvez o que muita gente não percebe é que existe vida deste lado da escolha também. A vida não é um caminho que as vezes andamos juntos e quando decidimos algo diferente nos afastamos do que nos foi planejado. Diria diante todos aqueles olhos cheios de certeza que o caminho que seguia ao menos era minha escolha, era o que queria para minha vida e vivi muito do lado de cá. Para falar a verdade, este outro lado da escolha cheio de aventuras e todo colorido é tão incerto como qualquer coisa na vida e não existe pessoa que possa te garantir que teria sido um caminho melhor. A questão toda é essa, não há dois caminhos. Bom e ruim, melhor ou pior, certo e errado. Há o caminho que escolhemos e nele depositamos toda nossa vida. Não venham falar de arrependimentos pois você não sabe onde outra decisão teria te levado para poder comparar com este agora. Parem de viver dos fantasmas de um lugar que não existe. Abrace suas escolhas, é o que te mantém real, é o que te mantém vivo.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Desabafo Tardio” (29/08/2014)

Será que seríamos felizes se fôssemos mais simples
Sem a consciência de tudo que podemos
Sem a consciência de nossa liberdade
Sem consciência do nosso fadado fim

Será que seríamos mais livres
Se saíssemos sem ambição
Todo dia até o mesmo trabalho burocrático
Que sustentasse nossa vida fora dele
Nosso marasmo em frente a televisão
Nossos suspiros levados pela correnteza
Nossa casa sem saídas

Por que essa ideia de grandiosidade?
Por que não podemos deixar os dias passarem naturalmente?
Deixar a vida a cada noite apaziguar um pouco mais nossa alma
Deixar o tempo ser mestre do destino
Ir e vir nesse mundo sem escalas e sem sinais
Operário da humanidade, uma estagnação da evolução
Poder sentar a mesa e sentir-se inteiro sem nada que lhe falte
Sem nada lá fora que precise para se sentir bem

Uma vida humilde sem muitas regalias
Com um canto para dormir e outro para rezar
Com um dia para sair e muitos para ficar
Que possa respirar sem culpa de algo que esqueci
Uma vida não para marcar, apenas para viver

Divido-me entre a dádiva e o cansaço que a palavra me traz
Toda essa percepção sensível do mundo
Toda essa percepção do que sou e não gosto
Todos os sonhos que construo e não vivo
Todas ideias que não tenho coragem de ir atras
Todo potencial mal aproveitado
Essa vontade de se perder no supérfluo, no cotidiano, no banal

Vejo tanta felicidade em meus desejos
Mas em algumas madrugadas me pergunto
Será que seria mais feliz se desistisse

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Questões de Gênero” (18/08/2014)

Todo homem é igual
Não importa o tamanho do coração
Barba, cabelo ou bigode
Tenha a inteligência que for
Vira a cabeça para mini saia
E calça branca até no varal

Todo homem é igual
Ataca quando se sente acuado
Vulnerável despeja atrocidades
Diminui os sentimentos do outro
Magoa antes que o atinjam
Sem se preocupar com o final

Homem é tudo igual
Diz amar antes de entender
Atropela corações pelo caminho
Abandona alma sem saber que ocupou
Faz uso das palavras, não dos significados
Aprende a não olhar para trás

No mundo onde tudo é igual
Sentir também vira estatística
Muitos sofrem pelos votos de alguns
O indivíduo se dilui no todo
Sem chance de defesa
Os erros falam mais que qualquer acerto

Toda unanimidade é burra
Só posso defender a causa
Dos que reparam no olhar e no sorriso
Dos que oferecem conversa e não romance
Dos que não prometem felicidade,
Mas também não chamam atenção

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Nicotina poética” (29/07/2014)

Eu trago palavras, mas não há doses recomendáveis de sentimentos, nem estudos que comprovem qualquer nocividade ao corpo. Só se sabe que age direto no coração, quando não no subconsciente da alma. Palavras se espalham rapidamente e logo ficam até mesmo no silêncio, palavras de vida e de morte. Palavras tendem aos extremos e não medem consequências. Talvez fosse natural esperar a consciência no seu uso, só que bem sabemos que seu uso é indiscriminado, sem regras ou fiscalização. O limite é quem fala mais alto, mais forte, ou até mesmo fere.
A primeira palavra é doce, mas é quando ela amarga que te conquista. O gosto do talvez, do porque, do amanhã, do ainda pode ser. Perdidos neste emaranhado completamos a lacuna entre a realidade e o sonho. A forma mais fácil de se iludir é com aquilo que nós próprios criamos. Sabemos todos os detalhes necessários para tornar algo crível. E na frente do espelho, debaixo do travesseiro, no telefone com o amigo, repetimos as mesmas palavras, todos os dias em um ciclo que só pode ser vício.
Aceitar seus problemas pode ser o primeiro passo para resolvê-lo, mas não nesse caso. Saber não te cala. Há um vocabulário inteiro com o qual podemos fazer mudanças sem alterar o significado. O sub é o mais consciente de nós. Mesmo que se liberte, o poder de controle sobre a palavra será seu caminho sem volta. Manipular teu próprio desejo, plantar ideias inquietantes nos dos outros, dizer não apenas por dizer. Viciado na palavra e em todos os seus silêncios. É embriagante e confesso….eu trago palavras todos os dias.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Não-amor” (14/05/2014)

Na solidão é que podemos refletir melhor sobre as presenças. Separar a dor do amor. No silêncio estamos acompanhados de nossos passados, escutando sem jamais ser escutado. Tenho marcado palavras para tentar me comunicar com tudo que já viveu dentro de mim. Não quero mudar, não quero respostas. Quero explicar pela última vez estes sentimentos, pois vou abandoná-los, chega dessa dor da qual já não sei mais falar, a felicidade quando chega merece toda sua atenção. É possível compreender todas as tristezas traçar uma rota pela sua história e abrir espaço para novas aflições. O coração precisa de um respiro e nada mais justo do que engolir os últimos rancores que hoje chamo de “não-amores”, afinal é isso que são. Não adianta voltar sua raiva contra algo que simplesmente não era sua realidade, muito menos seu futuro. Ainda mais depois de encontrar a companhia que te faz fazer algum sentido. A melancolia ganha tanto espaço na nossa vida porque na maior parte do tempo sofrer parece algo natural, parece uma resposta. Viver indagando, clamando por um sinal de um bom futuro parece o único jeito de seguir em frente. Desde os primeiros olhos mais sinceros que encontrei, que jamais desviaram dos meus, venho me perdendo em tantos outros. Entregue ao inimigo, sem reação e sem fala. Quantos “não-amores” são mudos pela vida, não é mesmo? Ajoelhadas, presentes, flores, mas quantos “não-amores” dissestes apenas, gosto de você. A maioria das pessoas de posse de uma mente mais inocente e livre viveram mais do que eu que me voltei as folhas em branco, aos pés de ouvido, ao breu das madrugadas, aos cantos de cada capa de livro……rabiscando sentimentos ao mesmo tempo reais e improváveis. Vivi a minha maneira, penso eu. Aprendi as minhas penas. Acredito mais até mesmo do que sinto, que “não-amores” são perfeitos. Instigam, adoecem, compartilham, invadem, intensificam, saboreiam, derretem e acabam. Afinal, eu não conheço perfeição inacabada. O seu antônimo, o amor, que é muito do imperfeito, do qual vivemos tendo que aprimorar todos dias. Por isso é preciso tantos outros destes plurais, o outro depois que se encontra é o mesmo pela vida toda, um sabor único que pode ser sentido de infinitas maneiras. Quando se descobrir em um “não-amor” agradeça e parta. Recluso então doa, mas tudo que precisar doer. É bom….sentir é sempre melhor. Se alguém partir não rejeite a chance de dizer adeus, a tristeza não vai ser diferente, mas a lembrança, com certeza, será. E o que realmente aprendi disso tudo e que posso dizer sem nenhuma ressalva é que você deve seguir. O amor, mesmo quando inventa de ser dor, ainda sim, é uma das melhores coisas que podemos sentir.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Bença” (22/04/2014)

No mar de decisões maiores que nós precisamos de algumas garantias. Tentamos por todos os lados descredenciar o sonho e conforme a vida nos fazia seguir em frente o medo se diluia na vontade, no desejo, na estranha incerteza de sentir que estávamos certos. Pelos dias que se seguiram a Chuva caiu sobre estes pensamentos. De forma doce para que desistisse do guarda-chuva. Fazia tempo que não encontrava ela assim. Ao pensar na decisão não tive dúvidas e com um sorriso sussurrei: Bença Chuva.
Não lembro bem quando, mas não muito tempo depois, os questionamentos ainda seguiam dentro de mim, embora mais silenciosos. Entre as árvores surgiu aquele brilho intenso do sol quase que de propósito na minha direção. O mesmo Sol que me acordava na infância quando dormia na sala de minha avó. Até hoje é uma das minhas sensações favoritas acordar assim com esse raio de luz preguiçoso, que mal toca seu rosto. Meu corpo ficou em paz e falei sorrindo: Bença Sol.
Na janela confessionário onde debrucei com melancolias, aflições e filosofias adolescentes eu resolvi voltar. Minhas conversas hoje são mais esporádicas, não menos importantes. Agarrado contra as grades sentindo o vento e o céu azul minha palavra não precisa de pressa. Abro o peito para o universo que me criou e tento descrever o gosto dos sentimentos. Mas acima de tudo agradeço, pelo encontro, pela chance, pela felicidade. Bença Céu.
Pela manhã caminhei entre os eucaliptos sobre o chão de cascalho. Posso muito bem seguir pelo asfalto, mas são raras as chances de respirar este ar misturado de nostalgia. A vida parece mais presente em nós, como se tudo pertencesse. Todos acabaram me visitando para dar certezas e eu retribui. Bença Natureza, bença.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Sobre o que não passa” (19/03/2014)

Nossa alma é uma extensão do corpo a arrastar e tropeçar em tudo ao nosso redor. As almas sensíveis acabam por se deixar levar e se envolvem na dor ou na felicidade do próximo. Os solidários são a prova que o sentimento é eterno. Tudo que transcende o corpo foge de nosso controle, o que sentimos ficará nesse mundo muito depois de nós. A escolha é até quando, até onde estamos dispostos a carregar tudo que nossa alma guarda. O tamanho do sentir é uma questão de perspectiva e quanto certos valores acabam sobrepondo outros. Por isso amores podem virar vilões. Qualquer palavra que busque dar um fim é apenas a razão tentando dar sentido a emoção. A noite e o dia não mudam ninguém, mas o olhar é sempre diferente. É assim que um dia acordamos e descobrimos que aquela paixão já não nos move mais. Abandonar isso é abandonar um sonho. Nunca é fácil para ninguém quando sobra apenas realidade. A busca vira pelo estrago, pela justificativa. Você pode dizer que acabou e que já não sente mais nada, mas o amor há muito transcendeu seu corpo e está a influenciar todo seu redor. Para encontrar paz é preciso entender e ter a coragem de abrir mão. Nada termina sem motivo e nenhum sentimento desaparece. Aquilo tudo simplesmente deixa de te motivar, será sempre uma parte de você e do seu universo, mas que só cabe no passado.
Um dia encontramos esse sentimento recíproco do qual não sabemos viver sem, os outros temos que deixar para eternidade. A alma move o corpo. Uma alma em paz move o mundo.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“O não cumprimento” (23/10/2013)

Por um momento quis desdenhar sua figura muito menos confiante, certa e soberba. Quis independente de conhecer sua realidade esbanjar meu bem estar, minha felicidade, meu sucesso. Vi em seus olhos a oportunidade de uma vingança, ou de simplesmente dizer que meu caminho era o certo e você foi uma das primeiras a recusar me seguir. Juro que tudo isso passou pela minha cabeça naquela fração de segundo. Usei todo resto de tempo para te observar. Sobretudo, caderno envolvido em um abraço, uma bolsa preta, olhos incrivelmente humildes, talvez pelo tom cansados. Parecia sair de um escritório estafada por mais um dia. Parecia que tuas pálpebras também guardavam o choro do dia anterior. Pareceu-me mais justa com as lições aprendidas. Talvez sua aparição tenha sido algum recado para o meu rancor, o que preciso melhorar em mim. Talvez um pouco mais de ousadia e coragem de minha parte tivessem te colocado no meu caminho. Todos enxergavam meu coração, menos meu espelho. Ainda sim penso que terminaria e hoje sei que minha história reside bem longe desta outra estrada. Acho que nosso encontro foi mais uma questão de paz, não que isso nos incomode hoje em dia, mas é rara a chance de saber que uma escolha sua foi boa. Meio que nos agradecemos neste reconhecimento sem palavras. Sabíamos muito bem quem éramos e resolvemos deixar passar, pois não somos mais.

Ass: Danilo Mendonça Martinho