“Tempo e Espaço” (02/11/2015)

Falamos do tempo, mas não tenho a certeza que sabemos que ele passa. O hoje parece tão natural e repetitivo que o agora parece maior que todo passado. Como este caminho pode ser mais rotineiro do que aquele de todo resto da minha vida? Será que é mais impressão do que vai ser daqui para frente que preenche o espaço do amanhã com as certezas do hoje? Olhar para trás coloca as coisas tão distantes de nós, como se houvesse uma separação real do que fomos.
Desci as escadas um pouco mais devagar, percebendo como fazia aquilo sem sentir. São trilhos ou trilhas que percorremos? Penso que alguém já saiba onde tudo isso vai parar. O que pode fazer nossa noção de começo, meio e fim um pouco deturpada. No paradoxo de que nada pode caber num dia e não podemos deixar tudo para depois. O que é sonho, o que é esperança e o que é realidade?
Pensei que tudo passaria rápido demais para perceber. Que alguns truques da razão me fariam acreditar que faltava pouco para tudo acabar. Os meses passaram, meu redor não parece muito diferente da promessa. Meu interior não resolveu seu quebra-cabeça. O tempo vai me alcançar e não poderei dizer como cheguei até aqui.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Leme” (25/09/2015)

Todo barco tem norte
Todo mar tem tempestade
Todo porto é passageiro
Toda rota tem desvio
Toda estrela é guia
Todo amor é náufrago
Todo destino tem sonho
Toda maré tem vontade
Todo encontro é tesouro
Todo vento tem favor
Todo amanhã é incerto
Todo capitão tem saudade
Todo coração levanta vela
Toda alma rema
Toda viagem é para voltar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Ensaio sobre incerteza” (17/08/2015)

A liberdade é algo perdido dentro do ser humano. Estamos presos não a nossa vontade, a nossa consciência, mas ao julgamento dos outros. E quando não há quem nos julgue, olhamos para o céu a procura de um sinal que aprove nossa decisão. Cada pedaço do que fazemos transformado em condenação ou absolvição. Nada pode simplesmente ser. Aos nossos queridos tentamos nos justificar. Contamos nossos meandros, medos, caminhos, conclusões. Ouvimos todo conforto que uma palavra pode ceder, e ainda assim não é o bastante. Precisamos perdoar a alma. Rezo, todo santo dia, como rezo com força, com sono, distraído, em silêncio…..agradeço para não ser mal educado, peço quando na verdade espero que “ele” possa assumir a responsabilidade da minha decisão. Que possa dizer o que está certo ou errado e me evitar o trabalho de tentar por meus sonhos em prática. Que então me indique a direção para que assim me acabem as desculpas de não viver por não saber para onde ir. Posso não saber até onde vai sua fé, mas hoje, mais do que qualquer outro dia, percebi o quanto ela pode ser vazia se não começar em você mesmo.
O fazer é humano, e suas consequências estão longe de serem prêmios ou castigos. São apenas rumos que a vida toma. É fácil esconder nossas vontades por trás de outras, divinas ou não. Justificar nossa inércia como efeito, quando na verdade é causa. Saber quais serão todos desdobramentos de suas atitudes e após fazê-lo enxergar o depois como uma justiça natural da vida. Bobagem! Somos livres! Eu acredito em forças naturais que nos protegem, nos guiam, as vezes ensinam. Mas o que procuro para apaziguar minha alma e dizer que esta é a melhor solução, simplesmente não existe. A escolha é livre e existe dentro de nós, esquecida, esta mesma liberdade. Não há explicação para o que fazemos se não a nossa vontade. Da mesma forma não há como esperar uma permissão para realizar teu sonho. Não tem certo, errado, muito menos um julgamento diário dos seus gestos e pensamentos. Temos apenas um coração como termômetro dizendo o que lhe agrada, e uma fundamental liberdade que se começarmos a colocá-la em prática em favor dos nossos sonhos, eu consigo imaginar vidas incríveis. Não precisamos de autorização para nada, mas precisamos ter responsabilidade com tudo. Até entendo que o meio disso tudo seja confuso, mas a saída é única. Escolha, a vida é sua caso precise voltar atrás, mas não deixe de escolher.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“O que as une” (14/07/2015)

Qual a importância da métrica para um poeta?
Será que apenas a uniformidade das palavras podem fazer um sentimento caber na realidade?
Ou será que contada em sílabas poéticas a dor não é tão grande assim?
São todas justificativas de uma ilusão
Não há como caber, nem diminuir
Somos apenas intensidades
As outras formas são apenas para distrair o espelho

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Um verso de esquina” (04/06/2015)

O mundo é feito de esquinas
Não é mesmo Aldo Quiroga
Pois entre tantos contornos
Foi nascer aqui do lado
A poesia, sim ela mesma
Com nome e endereço
E até atividade comercial
Alimentando almas e corpos
Com palavras e pães
Sei que de pronto não leva a sério
Mas segue foto em anexo
Pois notícias perderam a fé
Eu mesmo confesso, duvidei
Na noite me pareceu miragem
Fadiga dos olhos sem pedras
O letreiro permaneceu além dos sonhos
A poesia estava instalada
Com data de inauguração
Toda vila carece de um poeta
Qualquer dúvida sobre meu lugar
Desapareceu por aquela porta
Sou neste aqui
Sou neste agora
Dobro a esquina pro resto da minha vida

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Paz de espírito” (04/06/2015)

Por que há tanta tentação no inconsciente
Nossa própria razão lutando contra
Para que tantos desvios
Por que seguir não pode ser natural?
A escolha sempre como esforço
Tudo como superação
Será que faço o que não me é de direito?
Ou o ócio escondeu minha vontade?
Que força é essa que nada quer
Te faz parar e te culpa mais tarde
Que voz é essa que te faz do avesso
Te paira sobre o sonho sem jamais agir
Te traz o desespero do tempo
Coloca em cheque todas decisões

Cansei das tuas propostas
Tenho um bom coração
Quero fazer do corpo uma paz
Que qualquer alma se sinta bem
Mas quero mesmo é liberdade
Para que nenhum pensamento seja ruim
Para vida fluir como inspiração
Não há nada que devo
E há um tudo que posso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Linhas imaginárias” (03/04/2015)

O meio do caminho
Não é metade do que sou
O que era deixei quando parti
O que quero não me pertence
Estou vazio e estar também se sente
O temporário é finito e indeterminado
Até quando não poderei vestir o que sou?
Até quando terei que estar o que sinto?
Se é meio, falta tudo que já caminhei?
Meio não é metade
É uma palavra perdida no nada
O onde é apenas um qualquer
Indiferentes somos infinitamente comuns
Na ausência do que sou quem toma a decisão?
Não ter lugar é o mesmo que não se reconhecer?
As escolhas nos fazem únicos
Pois o que me trouxe até aqui, destino ou direção?
O caminho não é um limite
Cruzamos as fronteiras das incertezas
Traçar sonhos expande a alma
Mudança não tem norte apenas desejo
Se em algum momento me deixei para trás
Foi porque amava algo o suficiente para me levar adiante
O momento que deixei de ser, deixei de estar
O meio é uma ilusão, estamos à margem….
Ou na correnteza tentando seguir o coração.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Entre a luz e a sombra” (03/03/2015)

Eu gosto da penumbra, enxergar o que está lá fora sem revelar o que há por dentro. Você pode achar estranho um poeta que esconde seus sentimentos, ou você é um daqueles que enxergam as entrelinhas. O segredo das palavras é o mesmo das pessoas, é tudo que não é dito. Na penumbra me escondo para ver se encontro alguma verdade. As outras alternativas são: lhe perguntar e saber, até onde permitir, tua versão pública da verdade; Outra é me expor tentando ganhar sua confiança e você responder com algo que não terei garantia alguma da profundidade; Eu também posso mentir e você, mesmo suscetível e entregue a ilusão, será algo que imagina, mas não sente. É natural que sejamos assim…..deceptivos. Há tanto exposto que hemos de proteger o que permanece íntimo. Então não julgue meu gosto pela penumbra. Eu sinceramente viveria em luz total, mas se é aqui que te encontro livre, é aqui que poderei ser realidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Tênue” (15/02/2015)

Talvez tudo esteja perdido para quem ama
O mundo ficou distante da alma
As palavras viraram conveniência
E o coração está apenas em segundo plano

Talvez tudo esteja perdido para quem sonha
Sugerir novas ideias se tornou um incômodo
Colocaram um preço no seu querer
Brocharam teus desejos com o impossível

Talvez tudo esteja perdido para quem acredita
O próximo se vê como único
Tantos outros se encontram sozinhos
E todos esperam, mas já sem esperança

Talvez tudo esteja perdido
Mais causas do que queremos admitir
Mas isso não significa que não se deve lutar por elas
Pode ser a maior coisa que fizemos nesta vida.

Ass: Danilo Mendonça Martinho