“Perdão” (20/07/2016)

Pelas tuas costas vi meu sonho
Era tarde para o perdão
Não soube te alcançar
E agora sou eu que fico perdido

A humanidade é um conceito
A verdade é a distância
Nossa caridade tem limite
Nosso amor tem fronteiras

Minha reza não mudará tua vida
Minha penitência só resolve minha culpa
Mas tua partida carregou minha alma
E atrás dela poderei mudar um dia

Obrigado e que protejam teu caminho
Que não te falte a força e coragem
Que me falta todos os dias
Ao encarar a miséria e julgar não ser minha

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Trocado” (29/06/2016)

Moeda no bolso não faz ninguém solidário
Não tem valor que compra coração
Geralmente é na falta do tostão que se divide o pão
A distância é gigantesca do que sobra, do que nada tem
É preciso ímpeto, vontade, oportunidade
Mas acima de tudo é preciso despretensão
Pois o que carregamos no bolso não é para troca
Doar a alma é o único jeito de mover outra vida

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Alívio”(28/06/2016)

A gente se esquece até o tamanho de um nada
Enterra o que sobra no sofá
Chama o amanhã de nunca mais
E faz tudo isso com gosto
O prazer transbordado de culpa
Como me cansa a consciência
A certeza de ser senhor do próprio destino
E se for menos da possibilidade?
Se abandonar as ambições
Posso ficar mais com o que me faz feliz?
No fim a vida não é sobre trocas
Muito menos sobre essas escolhas
É no meio do próprio julgamento de valores
Encontrar o que possa chamar de liberdade

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Anti-Spam”(13/06/2016)

Não sou um robô
O que mais o clicar de um botão define?
Sei diferenciar pizzas e montanhas
Isso me faz mais humano?

Há muito mais que não sou
Mas a internet dá voz sem atenção
Cabe-me responder o desnecessário
Na desconstrução eletrônica do ser

O humano sempre foi wireless
O raciocínio é de enganar sentimentos
A palavra é a ilusão de multidões
O sublime é programar o que poderia ser livre

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Entre nós” (03/05/2016)

A paz, sem dúvida, está com quem partiu. Consciente da tarefa cumprida, da felicidade deixada, do aprendizado da alma. Ficamos satisfeitos de saber, o coração fica mais tranquilo, mas o âmago se contorce na saudade. É inquietante a ausência instalada de tudo que não vai mais voltar. Um quarto vazio, a porta que não abre, o doce que não se faz mais. Mas será a saudade apenas essa imensidão de outras vidas que ficaremos a carregar? Penso que ela não tem nada de falta. Sentimos, pois foi deixado dentro de nós as marcas das palavras e dos abraços. Os sinais daquelas pessoas que de coração aberto deixaram um pedaço de si para levarmos conosco. E não é qualquer pedaço, é o melhor que elas poderiam oferecer para nossas vidas. A saudade é esta constante presença desses sentimentos. Ela não está aqui para abrir um buraco no coração, mas lembrar as coisas que o une. Ela é a valorização dos presentes que foram dados para nossa alma. Ela quer manter vivo o que guardamos de mais importante. É verdade que ela não tem o calor do corpo, o carinho do gesto, o cheiro da roupa, ela não substitui, mas ela protege aquilo que as pessoas que partiram não gostariam que viéssemos a perder. É conforto saber que seguiram em paz, já a nossa paz de espírito depende em perceber que estarão para sempre em nós.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Hora Marcada” (28/03/2016)

Se a cinco minutos tivesse escolhido
Aquilo que não existia tempo para escolher
Teria dado tempo já que se passaram dez
Mas estou perdido sem saber quanto me falta
O tempo sem ser previsto pode acabar ou ser infinito
Agora me culpo por não ter priorizado a vontade
Mas que tempo é esse que posso contar agora
Já que antes nada disso existia
É injusto julgar meu passado pelo tempo
Principalmente por aquele que não era meu
O meu depois era mais pra lá deste agora
O que fazer com todas as sobras?
Quantos pedaços de vida não são meus?
Quantas escolhas não faço pelo tempo limitado?
Se agora eu passo sede
Pelo refrigerante não comprado
Será que meu sonho não chega
Pela hora que acordo?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Estagnado” (20/01/2016)

O que será que não enxergo agora?
O que devo fazer com todos esses sonhos?
O que me falta adicionar ao espelho?
Eu queria saber mais de tudo isso
Mas sei sobre o que é possível

Nada que acontece é o fim do mundo
Mas onde é o começo?
Qual lugar exatamente eu me encontro?
Será que eu quero mesmo mudar o que sou?
Só se segue em frente caminhando?

Eu esperava limpar as minhas dúvidas
Chorar as alegrias mais escondidas
Meu medo é não ter saída
Não existir nada além do medíocre
Que grandeza é essa que eu tenho sem respostas?

O vazio da alma é algo estranho
É ter um espaço sem ter o que preencher
É olhar o horizonte e seu rosto sem saber o que procurar
É não saber onde apoiar o coração
Não questiono a esperança, mas existe o que acredito?

O mundo gira sem nós
Eu preciso desatar o meu
Por enquanto permaneço cego
Corpo torto sem caminho certo
O amanhã é um pergunta que ainda não me faço.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Corrente de Fé” (11/01/2016)

É difícil não se envolver com a esperança. Tentamos ficar deste lado sóbrios, serenos, justos e lógicos. Só que lá daquele lado é que vive nosso sonho, nossa saída, nossa felicidade, nosso futuro. Por mais que aqui seja um confluente de tudo que já conquistamos, uma seleção do melhor de nós até aqui. O outro lado vai sempre reservar o que ainda podemos e queremos ser, a nova felicidade, diferentes objetivos, voos ainda mais altos. Mudamos e nem sempre o mundo acompanha. Crescemos e nem sempre a cabeça acompanha. Fazemos de nossos esforços uma questão de equilíbrio. É bem verdade que demora e tem muita coisa que se acaba tomando por verdade antes da hora…..as decepções, sem dúvida, são as grandes desvantagens de lá. É preciso muita força de vontade para continuar tentando, é preciso perceber o quanto podemos ser mais felizes para arriscar, é preciso a sinceridade de uma alma nua, que o medo supere a inércia. Devo confessar ainda que a nossa chance é quase um engano. Parece um descuido no universo, um momento que as coisas apontam na sua direção e te abrem o caminho. É tão surreal que muitos de nós deixamos passar pensando ser tudo mentira, mais aterrorizante do que algo que jamais poderá acontecer é o que acontece da maneira que você sempre imaginou. Eis o grande conflito entre o entusiasmo do que está na sua frente e a experiência na pele que te faz sempre ficar com um passo atrás. Mas como, como não mergulhar no rio da esperança e pedir com todas as forças para que finalmente deságue tudo isso que não tem palavra, não tem voz, nem explicação? Como não abraçar e torcer para dar certo? Como depois de conhecer dor, insatisfação, amargura não vamos embarcar nessa correnteza novamente para sermos felizes?
A esperança não pode te dar a certeza de que essa é a saída, mas isso não impede de desejar que seja.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Riscos” (12/11/2015)

Quando a gente é novo o mundo é só descobertas. As curiosidades nos levam a grandes tombos e topadas, mas não importa, a vida é uma aventura. Queremos chegar mais alto, queremos correr mais rápido, queremos ir mais longe. A caixa de papelão f-22 é a mais rápida aeronave de toda história. O cavalo de pau corcel negro é o mais corajoso que já conheci. Meu quintal é testemunha das batalhas mais épicas comigo mesmo. Meus soldados foram para guerra, sem que eu pudesse saber o que era uma guerra. Tinha uma galáxia estelar no box do meu banheiro e nem me deixe começar a falar sobre o teto do quarto. Os corredores eram maiores e o gramado da minha avó o meu Maracanã. Fui de tudo neste enredo, o mundo sempre coube na minha imaginação e foi difícil entender que o contrário não seria mais possível. O adulto é cheio de medos, as paredes são de concreto e tem uma janela onde podemos colocar nossos sonhos longe o bastante. Vejo meu gato pulando dentro de caixas, perseguindo a própria sombra, se divertindo com sacolas plásticas e papel picado. Ao comparar nossos olhos, penso que preciso voltar a ralar os joelhos por aí.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

“Pródigo” (09/11/2015)

Quem sabe era o filho que precisava se perder
Todo mundo sabe o caminho de casa
A questão é com que cara vamos voltar

Precisamos ir longe demais
Desconhecer o nosso próprio ser
Para entender o que nos faz únicos

Tentarei me encontrar da onde parti
Onde rompeu meu espírito de vontade
A última vez que lembro de ser livre

Rezo com todas as forças por um abraço
Desejo com toda esperança um novo caminho
Espero silenciar a dúvida para nascer outra paz

Só posso lhe dizer, que siga os próprios passos
É raro não precisar buscar longe daqui
É mais fundamental ainda a coragem e sabedoria de voltar

Ass: Danilo Mendonça Martinho