“Entre a dor e alegria” (07/03/2010)

A noite se aproxima como quem se aproxima do sonho. A gente veste a máscara, constrói a fantasia. A festa começa por dentro. A luz acesa no olhar multiplica em outros rostos, reflete pelas ruas onde brotam esperanças. É tudo que o corpo precisa para abrir os braços, negar os medos, cegar as incertezas. A multidão não pede identidade. Tudo é supérfluo, efêmero e intenso. Não há nada do que se precise, mas muito do que se quer. A vida tem um lapso de infância, gosta e desgosta, usa e já não quer mais, esperneia e faz birra se não consegue. Mas logo esquece, quer voltar a brincar. E no jogo infantil se jogam desejos maduros. O beijo vira romance e o abraço história de amor. Celebra-se o encontro como se fosse único e promete-se liberdade para o amanhã. A festa segue sempre com novos passos e nunca com destino. Se a madrugada te perder será melhor, quando não há tempo não é necessário julgamentos. Se valer a pena seremos memórias, se não basta acordar. A noite não precisa de estrela e a manhã de raiar do sol. O coração serpentina desfeito e o corpo mundano satisfeito, tudo pode acabar.
A dor começa como o amanhecer em cada feixe de luz que vence a fresta. A inevitabilidade do fim. Um conjunto de suspiros lamentam um sonho coletivo particular. Alguns enxergam o martírio das desventuras das fantasias, das máscaras que vem a cair. Outros se prendem aos desenganos e transformam na sua verdade a ilusão. Por um momento parece que sempre que acordarmos será esta quarta-feira. O que fica, o que marca, o que faz disto algo tão especial é esse sentimento, a consciência de que acabou. Há poucas coisas na vida que já se planeja o choro e o luto. A realidade é que o carnaval é feliz por completo, dói por completo e chora até a última lágrima. Há tantos amores inacabados, amizades mal resolvidas, mas o carnaval é o equilíbrio da dor e da alegria. Quem dera a vida fosse sempre assim: um sorriso para cada lágrima.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

11 comentários em ““Entre a dor e alegria” (07/03/2010)

  1. Já te contei um segredo? Vou revelar: sou apaixonada pelas suas palavras !!!Carnaval…Ah se os dissabores tivessem esse gosto intenso que se finda numa quarta cinza com memórias coloridas…Poderíamos ser eternos. Mas nossa lembrança não é?Bom fds !

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  2. “Alguns enxergam o martírio das desventuras das fantasias, das máscaras que vem a cair. Outros se prendem aos desenganos e transformam na sua verdade a ilusão”.No mais, fico introspectiva depois do que li.Agradeço sempre suas visitas.Um grande abraço,Ana M.

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